"Com turnês lucrativas e discos nas paradas, as bandas deheavy metal compõem a trilha sonora da crise econômica.E não será a primeira vez que isso acontece" Vocalista do sexteto inglês
Iron Maiden – que desembarca nesta semana no
Brasil para apresentações em várias capitais –,
Bruce Dickinson encontrou uma definição hiperbólica para seu gênero musical.
"O heavy metal é a ópera da classe operária", disse ele em entrevista a
VEJA.
Nem todo fã do rock pesado será um proletário. Mas esse é, sim, um público predominantemente masculino e de classe média baixa, sempre duramente atingido pelas crises econômicas. Com suas guitarras e sua gritaria, o heavy metal é o meio perfeito para essa turma ventilar frustrações. O gênero parece florescer com mais vigor em tempos difíceis.
A nova onda do heavy metal britânico, na qual despontaram
Def Leppard e
Iron Maiden, surgiu no caos econômico-sindical da
Inglaterra do fim dos anos 70 – que eclodiu com mais estrondo ainda no punk. E o auge do chamado "hair metal" – o hard rock xaroposo de bandas como
Mötley Crüe – coincide mais ou menos com uma grande queda da bolsa americana, em 1987. A crise mundial detonada pela implosão do crédito americano pode estar impulsionando um revival metaleiro.
O show que o
Iron Maiden traz agora para o Brasil esteve entre as cinquenta turnês recentes mais lucrativas dos Estados Unidos – nas quais se incluem outras bandas pesadas, como
Kiss e
Bon Jovi. Comercializado apenas na rede popular
Wal-Mart,
Black Ice, da banda australiana
AC/DC, tornou-se um dos CDs mais vendidos no mercado americano em 2008 – e o segundo do mundo. O Metallica também vem frequentando as paradas com
Death Magnetic. Haverá outras razões para o renascimento metaleiro – como o jogo
Guitar Hero, que popularizou o rock pesado entre as novas gerações –, mas a crise talvez seja o fator determinante.
Quase toda a crise econômica do século XX teve sua trilha musical. O suingue das big bands animou os anos tristes da
Grande Depressão, e a disco music amainou as angústias causadas pela alta do petróleo e pela inflação na década de 70. Na aparência, são gêneros muito diferentes – a discoteca, que teve origem em boates gays de Nova York, parece representar o oposto da masculinidade ostensiva de um show de metal. Mas há um ponto em comum: são músicas de grande apelo corporal. Houve várias danças frenéticas para acompanhar o suingue – caso do jitterbug, com seus tremeliques nervosos.
As coreografias da disco ficaram famosas na interpretação de
John Travolta (cujo personagem em Os Embalos de Sábado à Noite conhecia a dureza de perto). E o metal, embora não convide à dança, pede vigorosas sacudidas de cabeça. A música tem sua clara função catártica: quanto mais o corpo balança, menos sente o aperto econômico.
Os metaleiros contam com uma forte identidade de grupo, que proporciona abrigo em tempos de arrocho. O comportamento tribal, a indumentária de couro e rebites e os dedos erguidos para lembrar os chifres do "senhor das trevas" não contribuem para sua reputação.
Mas
Bruce Dickinson protesta: "Os fãs de rock pesado não são burros nem violentos. Isso é um estereótipo". A associação entre o metal e a violência é, de fato, equivocada – os fãs de metal raramente brigam em shows. Suas caras de mau disfarçam uma índole em geral pacífica. É a crise que é mesmo o capeta.
créditos : http://veja.abril.com.br/110309/p_132.shtml